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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS – RITUAL INDÍGENA DA INFÂNCIA PARA A VIDA ADULTA

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado. Mestre Instalado e Grau 32 dos Corpos Filosóficos da Grande Loja Maçônica do Amazonas.

Existem vários rituais indígenas quando da passagem do índio da infância para a adolescência. Dependendo da região do Brasil são realizados diferentemente.

Existem rituais para o curumim (menino) e para a cunhantã (menina).

A formação do homem adulto e sua incorporação no universo masculino exige diversos testes de virilidade, força física, domínio das emoções, em particular do medo e constante aprimoramento das habilidades básicas que o trabalho requer, assim como, a assimilação das regras e valores culturais.

Desse modo, os meninos passam por uma série de provações que podem incluir atividades, tais como: passar uma ou mais noites sozinho na mata; levar picadas de formigas; permanecer dentro d`água movimentando os braços por longo período de tempo; pisar em brasas; correr durante dias consecutivos; ser tatuado; perfurar partes do corpo; submeter-se a diversas formas de dor e medo e; realizar caçadas difíceis.

VENENO SAGRADO – A tribo dos Matis, que vive na Floresta Amazônica Brasileira, realiza quatro testes com os garotos, para que eles mostrem que podem participar das caçadas com os outros homens.

Primeiro, os garotos recebem veneno diretamente nos olhos para, supostamente, melhorar sua visão e aguçar os sentidos. Depois, eles são espancados e recebem chicotadas, para depois receber a inoculação do veneno de um sapo venenoso da região.

A tribo acredita que o poderoso veneno do animal, aumenta a força e a resistência, o que só acontece depois que o participante do ritual sofre com fortes enjoos, vômitos e diarreia. Quando os garotos passam por esta terrível sequência de testes, são considerados aptos a participar das caçadas da tribo.

RITUAL DA TUCANDEIRA – O ritual de iniciação masculina do povo Saterê-Mawé é uma forma de iniciação masculina, de passagem da infância para a vida adulta. Uma prática repassada de geração em geração que, mesmo com a pressão da sociedade moderna, se mantém viva.

A Tucandeira é uma formiga cuja picada do ferrão provoca dores durante quase 24 horas.

As formigas são levadas para a aldeia e colocadas em um balde de água contendo folhas de caju picadas. Essa mistura anestesia os insetos por cerca de meia hora, para que possam ser manuseados e fixados, um a um, dentro de um par de luvas grandes, com o ferrão apontando para dentro.

Enquanto as Tucandeiras são conservadas em um bambu, os meninos têm seus braços pintados com uma tintura preta de jenipapo, feita por suas mães, em seguida, com um dente de paca, elas começam a riscar a pele dos meninos até sangrar.

Considerado pelos indígenas como um ato de força, coragem e resistência a dor, o ritual consiste em vestir uma luva cheia de formigas Tucandeiras e resistir, por ao menos 15 minutos. Além da representatividade da bravura masculina, o ritual também simboliza uma proteção para o corpo.

Segundo a crença dos Sateré-Mawé, a ferroada da Tucandeira funciona como uma espécie de vacina. Depois que os jovens colocam as mãos nas luvas, eles cantam e dançam até tarde da noite, com o ritmo marcado por chocalhos cheios de sementes amarradas as pernas.

Durante o ritual, o jovem deve se deixar ferrar no mínimo 20 vezes. Para isso, coloca as mãos dentro da Saaripé, uma luva de palha feita pelos padrinhos, que são os tios maternos do iniciante.

As luvas, tecidas com fibras naturais, são decoradas com penas vermelhas de arara representando guerras e outros conflitos passados que viveram e penas brancas do gavião real, simbolizando a coragem e a resistência do povo Sateré.

A transição sexual dos rapazes também é simbolizada pelas plumas nos punhos das luvas. Elas representam os pelos pubianos e marcam a transição do adolescente para o guerreiro e o marido.

Durante o ritual, a comunidade toda canta e dança ao lado do adolescente, em especial as mulheres solteiras, que buscam maridos fortes e corajosos. Os homens dizem, que ficar imersos no ritmo é a única maneira de aliviar a dor. Conforme a noite avança, as mulheres Sateré se juntam a dança.

Ao enfiar as mãos em uma luva cheia de formigas, o menino não apenas demonstra estar apto para vida, mas também ganha respeito e admiração, além da certeza de que está protegido contra várias doenças. Para esses jovens, o ritual marca definitivamente a transição da infância para a idade adulta.

Após a primeira experiência com as formigas, eles podem se casar e começar uma família, mas espera-se que passem pelo rito ao menos 20 vezes durante a vida. A cada cerimônia, dizem, eles saem mais fortes, mais preparados para defender sua cultura.

Um mito diz respeito à origem da própria Tucandeira: “Nesta lenda, a formiga representa a mulher, desempenha o papel de mãe, a força transformadora, assim como a morte transforma a humanidade em natureza”.

RITUAL DE PASSAGEM DAS MULHERES DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA – Os rituais de iniciação das mulheres, em geral, implicam um longo período de reclusão, durante o qual as moças quase não saem de casa, chegando até a perder a cor bronzeada da pele por falta de sol. Ou saem da reclusão, desbotadas e com os cabelos longos, cobrindo o rosto.

O ritual acontece no primeiro dia em que a menina tem sua primeira menstruação. Ela é fechada dentro de casa até o final do ciclo menstrual, durante todo esse tempo só é vista e cuidada pela mãe, avó e tias.

A avó e tias ficam fazendo seus enfeites para o último dia da festa, enquanto o avô e os tios vão caçar e pescar para que tenha comida suficiente para oferecer aos convidados e ser servida para a moça.

Durante um tempo que pode durar de seis meses a dois anos, ou até mais, a contar da primeira menstruação, a moça é recolhida em um espaço reservado dentro de sua casa (um biombo pode ser a delimitação desse espaço), de onde sairá apenas para satisfazer necessidades fisiológicas.

É o tempo de aprender a lidar com sua menstruação, de fixar os tabus menstruais, alimentares e outros. Repassar conhecimentos e confeccionar os objetos femininos, como se fosse o seu enxoval: redes de dormir para ela e o futuro marido, cestos de carregar, panelas de cerâmica, colares próprios das mulheres adultas, dependendo sempre de qual seja a tradição cultural.

Ouvem muitas histórias, conversam com as mulheres mais velhas, enfim, preparam-se para as futuras responsabilidades. A avó em casa prepara a comida, como: peixe, batatas, beiju, milho, calují  e entre outros alimentos que vai ser servida para a moça e oferecida para os convidados que vem para a festa.

Os convidados são parentes da mesma aldeia e também os que moram em outra aldeia. Quando a família chega, todos vão se pintar com a mesma “tinta” que a moça foi pintada e comer da mesma comida que foi servida.

As tias cortam o cabelo da moça e os seus e fazem um topete. São ensinados às novas moças, como será sua responsabilidade, sendo aconselhadas a como assumir a vida adulta, ter casa, filhos e aprender a fazer os artesanatos da cultura Karajá favorecendo para o resgate da cultura e respeito de suas tradições.

Esse é um momento delicado, a mudança de estado não tem retorno. Ao completar o ciclo ritual, a criança será adulta, pronta para casar, procriar e realizar a reprodução social. Em muitos casos, os rituais iniciáticos dos jovens encerram-se com a cerimônia de casamento.

Boi Garantido: O Grande Ritual da Tucandeira – Autores: João Wellington / Tony Medeiros

Tenereké munriã tenereké Mawé

Vai começar o ritual da Tucandeira

Da tribo sateré-mawé

Í-nhaã-bé

Porantim sagrado

Segredo milenar

Da lenda de cereçaporanga

Dos olhos de guaraná

Vai guerreiro da floresta do rio andirá

Ritual da tucandeira saaripé-iá

Tenereké munriã tenereké

Mawé

No trançado de arumã

O sagrado ritual

Da iniciação í-nhaã-bé

Boi Caprichoso: Fibras de Arumã – Autor: Ronaldo Barbosa

Traz nas fibras de arumã

Kari…Uiaperiá…

Acende a fogueira

No meio do terreiro

O jovem guerreiro vem anunciar

Uiaperiá…

No compasso da dança

O velho pajé com seu arangá

Uiaperiá…

No remo sagrado, porantin

Escritas perdidas no tempo

Estilingue dispara aos ventos

A pedra atirada no tempo

Uiaperiá…

Da cultura, o teu mandamento

Do tuxaua, o ensinamento

Imune aos desgastes do tempo

Em memória dos seus ancestrais

Uiaperiá…

Tucandeira, tucandira

Tucanaira, tucandira

Hei…hei…hei…

Nação Mawé-saterê

Fonte:  Google e Youtube Fotos Divulgação: Internet

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