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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS: PETRÓLEO DE URUCU EM COARI

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado. Mestre Instalado e Grau 32 dos Corpos Filosóficos da Grande Loja Maçônica do Amazonas.

O terminal aquaviário de Coari é fundamental para o escoamento de petróleo e gás produzido na região de Urucu. A recepção desses produtos ocorre pelo oleoduto Rio Solimões, que armazena e entrega a navios para o abastecimento de petróleo da Refinaria de Manaus e o suprimento do mercado de GLP nos Estados do Pará, Rondônia, Maranhão, parte do Ceará e Pernambuco e é operado pela subsidiária Transpetro.

Há mais de 30 anos, o petróleo jorrou pela primeira vez do poço pioneiro Rio Urucu número 1 (RUC-1). Tal ação deu origem à Província Petrolífera de Urucu no Amazonas, a maior reserva provada terrestre de óleo equivalente (petróleo e gás natural) do país.

Descoberta em 1986, no coração da Amazônia, em Coari, a cerca de 650 quilômetros de Manaus, Urucu chama a atenção pelo desafio de produzir petróleo, respeitar e reduzir os impactos da atividade sobre o meio ambiente da região.

O óleo de Urucu, um dos mais leves produzidos no país (quanto mais leve, melhor a qualidade), facilita o processamento nas refinarias e permite o aproveitamento na produção de gasolina, nafta petroquímica, óleo diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP).

Em outubro passado, o complexo produziu 35.387 barris de petróleo por dia e 13,9 milhões de metros cúbicos de gás natural, além de 1,2 tonelada de GLP, o equivalente a 112 mil botijões de gás de cozinha. Se comparada aos 100 mil barris/dia de uma única unidade do pré-sal, a produção de Urucu é pequena, mas fundamental para o abastecimento da Região Norte e parte do Nordeste, além de ter papel importante na atividade econômica do Amazonas, com participação de cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.

O engenheiro de produção Ivaldo Santos da Silva, 34 anos de Petrobras, 30 dos quais dedicados à Urucu, lembra das dificuldades de instalação do complexo em meio à mata fechada, numa obra grandiosa.

– Isto aqui era mata cerrada e lamaçal.  Não era incomum encontrarmos onças, cobras e todo tipo de animal. Era aventura pura, estilo Indiana Jones mesmo. Todo transporte de material e de pessoas era feito pelo Rio Urucu. Os equipamentos, máquinas, tratores e sondas eram desmontadas e carregados pelo meio da mata fechada e enlameada nas costas mesmo. Desmontava-se tudo, colocava-se tábuas para reduzir os atoleiros e, em meio as clareiras que eram abertas, se montava tudo de novo, conta, emocionado.

O gerente da Província de Urucu, João Roberto Rodrigues, há 29 anos no projeto, recorda outro desafio da criação da base de exploração na Amazônia: a concorrência com a Bacia de Santos, que era prioridade da Petrobras na época por causa dos 100% de chances de acerto na perfuração dos poços e do retorno rápido e garantido do investimento, ao contrário de Urucu, onde a exploração ainda era incerta.

Foi necessário que o geólogo responsável pelo projeto amazônico fosse à sede da estatal, no Rio de Janeiro, para convencer a diretoria a manter as tentativas.

A descoberta de Urucu significou que ele estava certo e selou o destino da atividade da empresa na região. Era a última chance e ele provou que estava certo com a descoberta do poço pioneiro RUC-1.

– Aí houve a decisão pelos investimentos na região, o retorno do pessoal que já havia deixado o local, além do deslocamento de mais funcionários para a região, relembra Rodrigues.

Se em 1986, apenas 62 pessoas presenciaram o momento em que o petróleo jorrou pela primeira vez na Amazônia, hoje Urucu tem cerca de 1,2 mil trabalhadores.

– Estarmos aqui com toda esta estrutura é resultado de muito sonho nosso. A companhia sempre foi muito importante para o país. E o legado que a gente deixa é este aqui. É fato que Urucu é importante para o desenvolvimento da região e para a geração de empregos para muita gente que não teria uma oportunidade como esta não fosse o sonho de alguns exploradores há 30 anos, acrescenta o gerente.

Cuidados ambientais – segundo a Petrobras, o custo de extração de petróleo e gás natural de Urucu está entre os menores no país, apesar dos desafios de logística e operação em plena selva. A localização exigiu da estatal cuidados adicionais na implantação do projeto, que incluíram o reflorestamento das áreas abertas e o maior reaproveitamento possível do que é retirado da natureza.

Os troncos das árvores derrubadas nas áreas em que estão os poços, por exemplo, são transformados em bancos e os restos de comida, em adubo. A energia para o funcionamento do complexo é produzida em uma termelétrica movida a gás natural, com capacidade de geração de 20 Megawatts.

O trabalho de recomposição da cobertura vegetal e de catalogação das espécies retiradas das áreas de extração de óleo, entre outras medidas ambientais, tornaram Urucu referência internacional no setor.

Desde o início do projeto, as áreas afetadas são recompostas de modo que apenas algumas clareiras denunciam a presença dos equipamentos na floresta. Um viveiro natural abriga dezenas de milhares de mudas de 80 espécies nativas da Amazônia para viabilizar o programa de replantio intensivo implementado à medida que as clareiras são abertas para a perfuração dos poços.

Entre as espécies catalogadas e reintroduzidas na natureza estão bromélias e orquídeas.

– Toda vez que vamos trabalhar em alguma área nova aqui na região, a gente faz a identificação nominal da árvore, o estudo e o inventário dela e entramos com o licenciamento. A partir deste inventário é feita a coleta de sementes, para desenvolvermos as mudas no viveiro, de modo que na fase pós exploratória, quando iniciamos a recuperação da área, a gente possa devolver as características originais o mais próximo possível do que era antes de desmatarmos para construir o poço. Explica engenheiro florestal Jander Muniz Rabelo.

Rodrigues, gerente da Província de Urucu, diz que os cuidados são essenciais para a continuidade da exploração petrolífera em uma área sensível como o ecossistema amazônico. – Nossa missão é produzir petróleo e gás e vamos fazer isto dentro de uma lógica de responsabilidade e respeito ao meio ambiente, caso contrário não sobreviveremos. Aprendemos que aqui temos que ficar no nosso canto, quietos, respeitando os proprietários do local, que são as árvores e os animais. A velocidade é controlada, o carro tem que parar, não atropelar os animais.

Os resíduos orgânicos produzidos no complexo viram adubo para reflorestamento e jardinagem, os recicláveis são separados e destinados a empresas licenciadas e o esgoto doméstico é tratado segundo parâmetros exigidos pela legislação. De acordo com a Petrobras, a sucata ferrosa e os resíduos perigosos são tratados, neutralizados e destinados de acordo com as exigências legais.

Estar dentro da mata fechada também impõe outro desafio à Província Petrolífera de Urucu: a logística.

Para levar a produção da reserva aos centros urbanos, o principal caminho é o Gasoduto Urucu-Coari-Manaus, construído em 2009. Com 663 km quilômetros de extensão, o duto tem capacidade para escoar até 5,5 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural de Urucu à capital do Amazonas.

Antes do gasoduto, o produto era levado a Coari em balsas pelo Rio Urucu e depois pelo Rio Solimões até Manaus, em viagens que levavam mais de uma semana.

O empresário Élzio Alecrim, disse que o Petroleo de Coari é uma lenda e vai ficar como lenda e contou a seguinte História: “Quando começou a jorrar petroleo no Urucu, não saia por Coari como sai hoje e sim pelo Rio Tefé, passando pela frente da cidade de Tefé nas barcaças de sua propriedade. Fez parte do início da exploração. Iam pegar o petroleo em barcaças pequenas com empurradores pequenos para entrar no Rio Tefé, muito sinuoso, cheio de curva e muito complicado de navegar. Íamos próximo ao poço de extração para encher de petroleo e trazer para Manaus. Fizemos isso, praticamente, entre 5 a 8 anos, de 1987 a 1994. O petroleo continha muito sal. Muito leve. Petroleo muito bom, de primeira qualidade, e, corroeu demais as barcaças. Com a intensão de viabilizar o poço e que o mesmo tivesse viabilidade, este transporte foi realizado até construir o primeiro duto que chegou mais abaixo do Rio Tefé, onde começaram a pegar o petroleo com barcaças maiores. Depois construiram o duto para Coari, onde está o terminal hoje, transportado por navios petroleiros. A partir do valoroso trabalho destes armadores e navegadores e os muitos sacrifícios fez com que o projeto fosse viabilizado.

À época ninguém acreditava em URUCU. Todos diziam que era inviável, que o petróleo não ia dá certo.

Quando o petróleo começou a chegar em Manaus e a refinaria foi refinar, viram que era um petroleo de excelente qualidade.

Hoje, os terminais aquaviários da Transpetro são operados por meio de píeres, de monoboias ou de quadro de boias. A Transpetro é responsável pela operação e manutenção de mais de 7.155 km de gasodutos.

Esta malha integra as regiões Nordeste e Sudeste, permitindo grande flexibilidade operacional. Ainda contempla o transporte de gás natural de Urucu até Manaus na Região Norte. Por essa rede de gasodutos são escoados 75% de todo o gás natural consumido no Brasil.

São torres metálicas, tanques e esferas gigantes no meio da selva para produzir, por dia, 38 mil barris de petróleo, 13 milhões de metros cúbicos de gás natural e o equivalente a 115 mil botijões de 13 quilos de gás de cozinha (GLP).

Uma superestrutura que, apesar de ser a maior produtora terrestre de óleo no país, desaparece na imensidão verde que a cerca, impondo à operação, essencial à Região Norte e a parte do Nordeste, desafios descomunais. A começar pela odisseia logística para manter as engrenagens desse confim do Brasil, nas entranhas do Estado do Amazonas.

Em linha reta, as cidades mais próximas são: Carauari e Tefé, a 170 e 180 quilômetros de distância, respectivamente.

Do centro do município de Coari, onde o território está localizado, são outros 285 quilômetros. E da capital, Manaus, 650 quilômetros.

Por recomendação de cientistas na época da construção do polo, não há estradas que liguem Urucu a lugar algum, com o intuito de não estimular o adensamento populacional da região. As únicas que existem estão dentro do complexo da Petrobras e dão acesso a alojamentos, portos e parte dos 65 poços de produção.

Para chegar a esse rincão, todo trabalhador, cerca de 1.070 simultaneamente, em regime de escalas, aterrissa num avião turboélice, com capacidade para 47 passageiros, em voos diários de aproximadamente uma hora e meia de Manaus, ou três vezes por semana de Carauari.

O restante, da alface das refeições a caminhões, válvulas e sondas, vai de barco.

A viagem leva de sete a dez dias pelo Rio Solimões a partir de Coari e pelo sinuoso Rio Urucu, que se torna estreito e raso no período de vazante na Amazônia. Um complicador, sobretudo de agosto a outubro, que exige mão de obra local qualificada para não deixar encalhar as balsas, com calado de apenas 60 centímetros, nessa época do ano.

Fonte: Google, Agencia Brasil, Agência Petrobras.

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