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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS: A MAÇOMARIA NO ESTADO DO AMAZONAS

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado. Mestre Instalado e Grau 32 dos Corpos Filosóficos da Grande Loja Maçônica do Amazonas.

A Maçonaria Primitiva ou “Pré-Maçonaria” é o período que abrange todo o conhecimento herdado, do passado mais remoto da humanidade até o advento da Maçonaria Operativa.

Há quem busque nas primeiras civilizações a origem iniciática. Outros buscam no ocultismo, na magia e nas crendices primitivas  a origem do sistema filosófico e doutrinário.

Tantas são as controvérsias, que surgiram variadas correntes dentro da Maçonaria.

A origem mais aceita, segundo a maioria dos historiadores é que a Maçonaria Moderna descende dos antigos construtores de igrejas e catedrais, corporações formadas sob a influência da Igreja na Idade Média.

É evidente, que a falta de documentos e registros, dignos de crédito, envolve a Maçonaria numa penumbra histórica. O que faz com que os fantasistas, talvez pensando em engrandecê-la, inventem histórias sobre os primórdios de sua existência.

Há aqueles que ensinam que ela teve início na  Mesopotâmia, outros confundem os movimentos religiosos do  Egito e dos Caldeus, como sendo trabalhos maçônicos.

Há escritores que afirmam ser o Templo de Salomão o berço da Maçonaria.

O que existe de verdade é que a Maçonaria adota princípios e conteúdos filosóficos milenares, adotados por instituições como as “Guildas” (Inglaterra), Compagnonnage (França) e Steinmetzen (Alemanha).

Igreja Católica Apostólica Romana encontra neste sistema o ambiente ideal para seu progresso. Torna-se, uma importante, talvez a maior, proprietária feudal, por meio da proliferação dos mosteiros, que reproduzem a sua estrutura.

No interior dos feudos, a igreja detém o poder políticoeconômicocultural e científico da época.

O que a Maçonaria fez foi adotar todos aqueles sadios princípios que eram abraçados por instituições que existiram muito antes da formação de núcleos de trabalho, que passaram à história como o nome de Maçonaria Operativa ou de Ofício.

A História da Maçonaria (forma reduzida e usual de francoMaçonaria) relata a evolução de sociedades ditas maçônicas, que se estruturam de modo discreto e em carácter universal. Cujos membros cultivam o aclassismo humanismo, os princípios da LIBERDADE, DEMOCRACIA, IGUALDADE E FRATERNIDADE e aperfeiçoamento intelectual, constituindo-se em uma associação iniciática e filosófica.

Os Maçoms estruturam-se e reúnem-se em células autónomas, designadas por OFICINAS ou (como são mais conhecidas e corretamente designadas) LOJAS, “todas iguais em direitos e honras e independentes entre si.”

A origem se perde na Idade Média, se considerarmos as suas origens Operativas, ou seja, associação de cortadores de pedras verdadeiros, que tinha como ofício a arte da construção de castelos, muralhas etc.

“Em setembro de 1788, José Alvares Maciel, retorna ao Rio de Janeiro, vindo de Paris e, imediatamente vai a um encontro secreto, com seu amigo da pacata Vila de São João Del-Rei, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Ambos, cogitam a possibilidade de irem em frente com o propósito aludido pelo embaixador americano. O encontro foi em Andarai. A corrente maçônica se fortalece com Maciel. Tiradentes e outros jovens estudantes, tanto em Paris quanto em Porto e Lisboa, veem a necessidade de fundar Lojas Maçônicas de imediato: uma em Vila Rica e outra no Rio de Janeiro. Ao que se percebe, tudo é tratado no mais puro sigilo”, conforme José Wilson Aguiar, em seu livro: Os Primórdios da Maçonaria no Amazonas (p. 34 e 35).

“A Loja Maçônica fundada em Vila Rica, provisoriamente denominada: Mineiros Reunidos de Vila Rica, teve suas primeiras reuniões ocorridas no piso superior da chácara do Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade’’. Sem polemizar, podemos ter a certeza que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, já era obreiro de uma Loja Maçônica de nome totalmente desconhecido, fundada numa fragata francesa comandada pelo Capitão Landolphe, ancorada nas proximidades das Barra, Porto Seguro. Esta fragata se chamava Le Preneuse. O Rito adotado foi o Rito Adonhiramita”, página 37, do livro de José Wilson.

“Em janeiro de 2003, a Eclésia, revista evangélica do Brasil, fez publicar artigo citando a criação daquela que seria a primeira Loja Maçônica no Brasil, a Cavaleiros da Luz, no povoado de Barra em Salvador, no ano de 1797”, páginas 43 e 44, do livro de José Wilson.

“O Amazonas, ao ser elevado a categoria de Província, em 1850, não possuía Loja Maçônica.  Permanecendo nesta situação até o surgimento em 1872, quando da fundação da primeira Loja ESPERANÇA E PORVIR. Tal fato, porém, não significa inexistir nessa época, em terras amazônicas, qualquer atividade da Maçonaria Universal”, segundo o saudoso Past Grão Mestre Mário Verçosa, em seu livro: Registro Maçônicos (p. 61).

No período de 1872 a 1904, só existia a Potência Maçônica denominada de Grande Oriente do Brasil.

Conforme o Decreto N⁰. 277, do Grão Mestrado no Rio de Janeiro, datado no dia 22 de setembro de 1904, da nossa era, foi “Instalado o Grande Oriente Estadual do Amazonas, com sede em Manaus”, assinado pelo Grão Mestre Lauro Sodré, Grau 33.

Em 10 de abril de 1905, o Decreto 301 declara Regularizado e Constituído o Grande Oriente Estadual do Amazonas, assinado pelo Grão Mestre em exercício, Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, Grau 33.

O Primeiro Grão Mestre do Grande Oriente Estadual do Amazonas, foi o Irmão Raymundo da Silva Perdigão, nascido em São Luis do Maranhão, no período de 1904 a 1908.

A Loja Maçônica Esperança e Porvir, foi fundada em 06 de outubro de 1872, na Rua Bernardo Ramos, centro de Manaus, graças a iniciativa do Respeitável Irmão Leopoldo Francisco da Silva, onde funciona até hoje.

O responsável pela implantação da Maçonaria no Estado foi o general João do Rego Barros Falcão. “Ele foi um dos vencedores da Guerra do Paraguai e veio para o Amazonas cumprir uma missão. Ficou algum tempo por aqui e ajudou a fundar a loja, que no início era pequena e depois foi crescendo. Hoje, ela é considerada patrimônio histórico e cultural do Estado”.

A Esperança e Porvir preserva em sua sede, documentos e ilustrações de momentos da História em que Maçoms tiveram participação política. “Muito de nossos irmãos atuaram em movimentos abolicionistas. Mesmo antes da abolição da escravatura, alguns compravam cartas de alforria para libertar escravos e dificultavam a entrada de alguns no território amazonense”. “Outro momento importante que os documentos registram, foi a presença dos Presidentes Floriano Peixoto e Marechal Deodoro da Fonseca na Loja em Manaus. O Governador do Amazonas, Eduardo Ribeiro, também era Maçom”.

O Amazonas possuía em relação às outras províncias, pequena quantidade de escravos. Fácil, portanto, a propaganda abolicionista. Tal situação estimulava os Maçoms (pedreiros livres) a entrarem em ação.

Por influência de Maçoms no seio da Assembleia Provincial, desde o ano de 1880 a 1884, os orçamentos consignavam dotações específicas, na lista de suas despesas, destinadas à libertação, cujas cartas de alforria eram entregues sempre em festas solenes, para maior retumbância do acontecimento. Por disposições legais dificultavam–se entradas de escravos no território amazonense.

Rara era a festa, de regozijo público ou particular que não fossem marcadas com a entrega de carta de alforria.

No ano de 1884, as Lojas Esperança e Porvir e AMAZONAS N⁰. 2, foram as que mais desenvolveram ações abolicionistas. Maçoms dessas duas lojas seriam os autores da Lei de 24 de abril de 1884, que consignou a quantia de 300 contos de réis, num orçamento de 2.500 contos, para completar as alforrias, ao mesmo tempo proibindo a entrada de novos escravos na Província do Amazonas.

Buscando um fortalecimento ainda maior para os seus ideais, fundaram também a “Sociedade Libertadora 25 de Março” e o respectivo órgão na imprensa, o “Abolicionista Amazonense”, que teria, no seio da opinião pública, a devida repercussão.

Vários foram os Maçoms que se destacaram neste movimento emancipador, entre eles destacamos: Carlos Gavinho Viana, Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, Antônio Dias dos Passos, Deocleciano Justo da Mata Barcelar, Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, Maximiano José Roberto, Gentil Rodrigues de Souza, João Carlos Antony, Pedro Ayres Marinho, Antônio Hosannah de Oliveira, Francisco Públio Ribeiro Bittencourt, Antônio Ponce de Leão e Antônio Solimões. 

No dia 10 de julho de 1884, foi “Decretado, por um maçom que governava a Província do Amazonas, o Doutor Teodureto Carlos de Faria Souto, extinção da Escravidão”. Esse fato ficou assim assinalado: Foi um acontecimento que se revestiu de alta significação social e política, pelas suas benéficas consequências. Em Manaus, a Rua 10 de Julho, relembra esta data comemorativa.

Efetivamente, o Amazonas foi o segundo Estado brasileiro a libertar seus escravos, e, dava um grande passo à igualdade social do homem em terras brasileiras. Cumpria a Maçonaria com um de seus mais legítimos propósitos.

A libertação dos escravos no Amazonas foi solenizada em praça pública. Por sua vez, a assinatura da Lei Áurea fora festivamente comemorada, segundo se desprende da carta que o Irmão Francisco Públio Ribeiro Bittencourt, Venerável da Loja Amazonas, endereçou, em 24 de maio de 1888, à Loja Esperança e Porvir, convidando a participar do movimento popular que iria solenizar aquele grande acontecimento social e altamente humanitário, com um desfile cívico.

A participação da Loja Esperança e Porvir Nº. 1, na libertação dos escravos está gravado em vários depoimentos, um dos quais o do irmão José Cardoso Ramalho Júnior, pronunciado em 1913. 

Quando no Brasil, se iniciou o movimento libertador contra a mancha que enodoava a nossa pátria como nação civilizada, a Assembleia Provincial do Amazonas foi a primeira de suas coirmãs que teve o arrojo de em seu orçamento consignar uma verba elevada para a alforria do negro escravo. A Benemérita Loja Esperança e Porvir Nº. 1, aproveitando os recursos que conseguiam angariar os seus dedicados obreiros, lançou-se ousadamente no trabalho humanitário de dignificar homens, o mesmo Irmão ainda descreve: “Como sinal de reconhecimento ao empenho da Maçonaria a favor da emancipação, representada na época pelas lojas Esperança e Porvir N°. 1 e Amazonas Nº. 2, ambas receberam o título de Benemérita, conferido pelo Marechal Deodoro da Fonseca, Presidente da República do Brasil e Grão-Mestre Soberano Grande Comendador da Ordem Maçônica no Brasil.  Este título foi lido e transcrito no expediente da sessão de 29 de outubro de 1891, sob entusiástico aplauso.

Foram desbravadores e plantadores de uma civilização justa e perfeita, procurando destacar o homem sem diferença de raça, cor ou religião. Alguns desses homens passaram por nossa terra banhando os rostos nas águas do Rio Negro.

Aqui chegaram não somente atraídos pelos nossos mistérios, pelo fascínio de nossa exuberante natureza ou pelo delírio de grandes conquistas materiais, mas também no intuito de construírem com suas inteligências e com as próprias mãos, um passado que agora faço ressurgir para conhecimento de uma geração.

Hoje, o velho Rio Negro, que presenciou tantas lutas desses bravos irmãos, caminha ao encontro do grande e perpétuo embate com o Solimões, como se fora um milagre diário da vontade suprema do Grande Arquiteto do Universo, a festejar as almas dos nossos bravos Irmãos emancipadores de tão longínqua Província. Nos Templos da Grande Benemérita Loja Simbólica Esperança e Porvir Nº. 1 e Amazonas Nº. 2, repousam em seus arquivos, documentações insubstituíveis para comprovação cabal marcada em nossa terra, através da presença dos Maçoms que provaram com sangue e gestos, a firme vontade de emancipar os negros de nossa província, a segunda do Brasil a fazê-la.

Na Constituição datada de 24 de junho de 1927, verificamos a jurisdição de nossa Grande Loja, sobre a Loja Bolívar Nº. 8, na cidade de Cubija, na Bolívia.

Existem, no mundo, aproximadamente, 6 milhões de integrantes espalhados pelos 5 continentes. Destes, 3,2 milhões (58%) nos Estados Unidos, 1,2 milhão (22%) no Reino Unido e 1,1 milhão (20%) no resto do mundo.

No Brasil são, aproximadamente, 211 mil Maçoms regulares (2,7%) e 4.700 Lojas.

A Maçonaria, como Instituição Filantropica e Filosófica, recebe em seus seios, homens que tenham FÉ no criador do universo. Não existe no seio maçônico nenhum ATEÚ.

A maçônaria não é uma religião.

Pode ser iniciado em seus augustos mistérios, qualquer homem livre e de bons custumes, que presta culto a um único DEUS, que pode ser chamado:  JEOVÁ, JAWE, ALÁ, DEUS. Este ente superior, na Maçonaria é chamado de GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO – GADU.

A Maçonaria não discorda de nenhuma religião, pois, tem como principio o respeito a crença de cada um. Seus objetivos são: Tornar Feliz a Humanidade; Combater a Ignorância e os Preconceitos; Cavar Masmorras aos vícios e; Saudar as Virtudes.

Entre os grandes nomes universais, temos o maior apreço e respeito pelos ensinamentos de AMOR que nos foi dado por JESUS CRISTO, o qual chamamos, carinhosamente, de DIVINO MESTRE.

O Profano, que pretende iniciar na Maçonaria, tem que ser indicado por um Maçom regular e seguir as obrigatoriedades desta pretenção.

O Irmão, ao ser iniciado nos Augustos Mistérios Maçônicos, recebe o título de Aprendiz Maçom.

Após o interstício cumprido neste Grau, passa para a colação do título de Companheiro Maçom.

Cumprido o interstício neste grau, dependendo de suas aplicações nos estudos e dedicações nos trabalhos, passa ao Sublime Grau de Mestre Maçom.

No Simbolismo são estes os três principais graus da Maçonaria.

Após o interstício no Grau de Mestre Maçom, o Irmão poderá continuar os estudos nos Graus Filosóficos, que vai do: 4 – Mestre Secreto ao 33 – Soberano Grande Inspetor Geral.

Nossa Constituição, em seu Artigo 1º., denomina os nomes desta Potência, desde sua Fundação:

1) Grande Oriente Estadual do Amazonas, instituido a 22 de setembro de 1904; 2) Grande Oriente do Amazonas e Acre; 3) Grande Oriente do Amazonas, Acre e demais Territórios Limítrofes; 4) Grande Loja do Amazonas, Acre, Rondonia e Rio Branco; 5) Grande Loja do Amazonas, Acre, Rondonia e Roraims; 6) Grande Loja do Amazonas e Territórios Limítrofes; 7) Grande Loja Maçônica do Estado do Amazonas e 8) Grande Loja Maçônica do Amazonas – GLOMAM (atual).

Todo os procedimentos jurídicos, estão assentados no Cartório do Registro Especial (Titulos e Documentos).

Até abril de 2021, a GLOMAM tem sob sua jurisdição, 50 Lojas Regulares, sendo 21 na capital e 29 no interior.

No interior existem Lojas nos seguintes municipios, por ordem de fundação: Manacapuru, Canutama, Parintins, Tefé, Eirunepé, Benjamin Constant, Coari, Lábrea, Boca do Acre, Itacoatiara, Codajás, Autazes, São Gabriel da Cachoeira, Manicoré, Borba, Maraã, Maués, Carauari, Presidente Figueiredo, Urucará, Tabatinga, Novo Aripuanã, Iranduba, Fonte Boa, Novo Airão, Beruri, Envira, Anori e Anamã.

Existem no Amazonas, Lojas Maçônicas subordinadas a outras Potências Maçônicas que não a GLOMAM.

Desde sua fundação em 1904, tiveram a oportunidade de Administrar a GLOMAM, 22 Grãos Mestres, sendo o atual Marcelo Peixoto.

Nossa Instituição, completará dia 06 de outubro de 2022, seu sesquicentenário, ou seja, 150 anos de Fundação da Loja Esperança e Porvir.

Escusas aos Irmãos de outras Potências do Amazonas, por só citar documentos referentes ao histórico da GLOMAM.

Existe muitas outras histórias de benfeitorias e benemerências feita pela Maçonaria, porém, se fossem aqui nominadas, o artigo com esta homenagem ficaria muito extenso.

Fonte: O Amazonas e a Maçonaria edificaram a História – MI Abrahin Baze; Registros Maçônicos – PGM Mário Verçosa; Os Primórdios da Maçonaria no Amazonas – José Wilson Aguiar; GLOMAM; GSRE da GLOMAM Francisco Vasconcelos; Google, Wikipédia e GLOMAM.

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