Estevão Monteiro de Paula possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Amazonas (1979). Mestrado em Engenharia de Estruturas na Escola de Engenharia de São Carlos pela Universidade de São Paulo (1981) e Ph.D. – University of Tennessee (1989) dos EUA. Membro da Comissão de Revisão da ABNT NBR 7190:1997 – Norma de Calculo e Estrutura de Madeira da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Exerceu atividades de Presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (órgão estadual de meio ambiente); Gerente do Centro Técnico Operacional de Manaus do Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM; Diretor Substituto do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA e; Coordenador Geral de Pesquisas do INPA. Representou o Estado do Amazonas em comissões técnicas no Peru e Alemanha. Coordenou projetos de pesquisas na área de uso e tecnologia de Madeira, entre outras funções como gestor público de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia.
Professor Doutor Estevão Monteiro de Paula[1]
“Ponha um pouco de amor no ofício”, disse um Presidente de uma companhia ao ler um documento elaborado por uma excelente funcionária.
O texto era perfeito, obedecia a todas as normas e recomendações técnicas para uma redação comercial. No entanto, a frieza e a impessoalidade incomodavam a política da empresa que tinha como princípio a cordialidade.
A atitude da funcionária perfeita lembra bem o Agilulfo, o personagem de Ítalo Calvino no conto “O Cavaleiro Inexistente.”
Um cavaleiro de armadura branca perfeita, limpa e sem riscos, mas internamente havia um grande vazio. Ele é fisicamente inexistente, incapaz de sentimentos, de desejos e sensações, mas impecável no cumprimento de suas atribuições.
No entanto, já no fim de sua vida militar percebe que recebera somente condecorações sem entender como é realmente viver.
Assim está se transformando a sociedade atual. As relações sociais e de amizades estão se perdendo.
A individualidade cresce cada vez mais e tudo passa rápido, sem se criar referencias, sem heróis, sem seres humanos capazes de serem admirados.
O romantismo sumiu.
Os personagens importantes nas artes e esportes não estabelecem empatia com seus fãs; assemelham-se a personagens de jogos virtuais. A música reflete uma frieza inabalada e é requentada de um virtuoso aparato tecnológico.
A união, o patriotismo, as referências, perderam-se. As atitudes das lideranças políticas e de autoridades executivas e judiciarias construíram valas imensas com a sociedade.
A impressão de descaso das autoridades com os problemas dos indivíduos comuns dá ao individuo a sensação de desprotegido e provoca um comportamento de “cada um por si.” Com efeito, a individualidade cresce e a competitividade se instala nas mais diferentes atividades humanas.
Na contramão do futuro promissor que conta com atividades em grupo e inteligências emocionais encontrar-se-á em breve uma geração de jovens competentes, mas intransigentes e emocionalmente abalados.
A sensação de perda de uma competição por meio de jogos eletrônicos é atenuada pela distância física do adversário e pela facilidade em se dispor para participar imediatamente de outro jogo. A perda no jogo eletrônico não tem a penalidade da perda de um jogo real.
Atualmente, nas competições infantis não existem a sensação de perda, pois todas as crianças, independente do ranking que tiraram na competição, recebem uma medalha. Assim, formam-se seres humanos que não sabem lidar com a perda.
Às vezes é difícil compreender que ao se perder alguma coisa, deve-se esperar ou construir novas oportunidade.
De acordo com o filosofo Zygmunt Bauman, esta nova geração de “modernidade líquida” tem uma dificuldade imensa em saber lidar com os outros.
Os amigos virtuais são rapidamente conectados ou desconectados em redes sociais; portanto, existem poucos amigos que tenham de fato uma relação que seja pessoal. Segundo Bauman, as relações pessoais estão cada vez mais superficiais e “escorrem entre os dedos”.
É interessante, neste contexto, resgatar a posição do sociólogo francês Michael Maffesoli de que está acabando “o ideal democrático para o nascimento do ideal comunitário”. Segundo o sociólogo a sociedade está se constituindo de diferentes tribos; pessoas que não se conhecem, mas defendem a mesma causa, utilizam roupas e tatuagens similares.
Estas “tribos” são fomentadas pela imagem veiculadas pela mídia provocando efeitos subliminares da imagem capazes a induzir sua audiência a manifestar-se sobre o assunto. “Portanto, a maioria dos membros das tribos defendem causa que não conhecem de maneira aprofundada.
Especular o futuro é meio pretensioso considerando a velocidade do desenvolvimento tecnológico e as mudanças radicais do comportamento humano em tão pouco tempo. As questões religiosas agora manifestadas em países europeus deixa atônito do que pode acontecer, principalmente na França.
Diante de um cenário quase que “macabro” apresentado aqui, deveria ser enfatizado a necessidade premente na revisão da educação, principalmente no Brasil, que pode ser abordado em um outro momento com mais atenção.
É preciso que sejam tomadas urgentemente atitudes para humanizar a sociedade pós-moderna ou líquida.
Sem sombra de dúvida um dos mecanismos é o esporte. Nele é possível aprender a hierarquia, o trabalho de grupo, o respeito aos próximos, as diferenças e saber ganhar ou perder.
Assim, será possível construir um mundo melhor mais harmonioso e fortalecido com relações humanas saudáveis e apropriadas aos desafios que podem aparecer no futuro próximo; danos ambientais, conflitos religiosos e políticos, segurança alimentar e saúde humana e social.
[1] PhD em engenharia. Professor Titular da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas
Imagem: Banco de imagem Can Stock Photo