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DESAFIOS DA BIOECONOMIA: NA TRILHA DE BERTHA BECKER

by Gilmar Couto

Publicado por Estêvão Monteiro de Paula e Alfredo Lopes

As seguintes anotações seguiram uma orientação conceitual e vivencial de uma de nossas mais atentas cientistas do desenvolvimento sustentável da Hileia. Num de seus últimos trabalhos para o aproveitamento racional de nossa biodiversidadea pesquisadora Bertha Becker dizia ser urgente promover uma radical intervenção no setor das políticas públicas, que deve ser iniciado pela imprescindível alteração da legislação em vigor que regula o Acesso ao Patrimônio Genético, visando a simplificação das exigências e dos procedimentos para a implementação de projetos de pesquisa científica em geral sobre a biodiversidade e, particularmente, para projetos de bioprospecção na área.

Com isso, estarão criadas as condições para a retomada, ao mesmo tempo, de duas das mais estratégicas atividades para o pleno desenvolvimento da bioindústria e, especialmente, da produção de fitomedicamentos, tendo como base, a utilização econômica da biodiversidade amazônica: a) a pesquisa e desenvolvimento e; b) os investimentos produtivos.

O alerta da saudosa Professora Bertha Becker, a quem dedicamos essas notas, demorou 10 anos para ser atendido. O descontentamento entre empreendedores e parcelas da sociedade que têm direito a um percentual dos lucros sinaliza que as mudanças na legislação ainda padecem de ajustes.

Fitocosméticos: anotações preliminares

O ser humano sempre lutou para combater a dor, a morte e a feiura de acordo com o sociólogo italiano De Masi. Existem relatos do uso de produtos vegetais para embelezar há cerca de 5000 anos.

Um dos exemplos dessa obstinação pela beleza é o formulário Cleopatre gynoecirium libri, editado durante o reinado da Cleópatra, com o objetivo de orientar o cuidado higiênico, tratamentos de pele e maquiagem a base de óleos e extratos vegetais.

Nos dias de hoje, essa obsessão continua, pois, em todos os períodos de dificuldades econômicas o segmento da indústria dermocosmética não para de crescer.

No Brasil, de janeiro a março de 2019, o setor varejista de cosmético movimentou 4,7 bilhões de reais, representando um crescimento de 10,64% comparado com o mesmo período do ano passado (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias – ABRAFARMA).

A participação da Amazônia é mínima (Fig. 1), apesar das manifestações de alguns pesquisadores que estimam o valor da biodiversidade da Amazônia Brasileira ser cerca de US$ 3 trilhões, o que transfere para a sociedade em geral a sensação de um potencial econômico da região e considerada uma das áreas mais promissoras da atualidade (Indústria de cosméticos da Amazônia aposta na biodiversidade para crescer – SEBRAE).

Figura 1. Distribuição geográficas de empresas do setor HPPC (Sebrae – 2014)

Efeito batom

As projeções sobre o mercado de HPPC sempre foram muito otimistas; no entanto, em consequência do momento em que se vive com o ataque de corona vírus em todo o planeta, estas perspectivas perderam a confiabilidade.

Mesmo assim, o otimismo continua com base no fenômeno que é conhecido como “Efeito Batom”. Este fenômeno foi observado na grande depressão de 1929, quando as pessoas em crise econômica compravam cosmético e perfume para não parecer que estão em dificuldade mantendo sua aparecia e sua autoestima.

Dinâmica do Mercado

No sentido de entender as maiores forças competitivas no mercado do HPPC do Brasil vale utilizar a Análise de Porter, feito pelos membros do Clube de Finanças.

O produto desta Análise é um gráfico que atribui notas de 1 a 5 (quanto maior a nota, maior é a força na dinâmica do mercado), a forças competitivas na concorrência entre as empresas.

As forças foram: 

(I) ameaça de produtos substitutos (nota 3):

A diversificação de produtos é fundamento para a competitividade do mercado. Isto implica que a empresa deve ter altos investimentos em P&D. O que justificou neste estudo colocar a necessidade de produtos substituto é o fato de a Natura ter lançado só em 2016, mais do que 250 produtos.

(II) ameaça de novos entrantes (nota 1):

Não existe uma preocupação quanto a entrada de novas empresas.

As empresas grandes têm vantagens significativas em relação as menores por operarem em economia em escala. É complexo criar um produto de qualidade com preço competitivo, além dos consumidores serem fiéis ao produto e as empresas.

Ressalta-se ainda a observação feita pelo Clube das Finanças, o que complica para novas empresas: “A Anvisa obriga que as empresas sigam um longo conjunto de normas para poderem operar no Brasil e, segundo a Abihpec, o ICMS e IPI são impostos bastante pesados no setor.”

(III) poder de barganha dos fornecedores (nota 1):

Infelizmente os fornecedores têm pouquíssimo poder de barganha, principalmente da Amazônia, com pouca renda e com ofertas abundantes faz com que a empresa praticamente estabeleça seu preço.

De acordo com o Clube das Finanças a natura em 2017, manteve relações com mais do que 4700 fornecedores.

(IV) poder de barganha dos consumidores (nota 5):

​​

Este é o fator mais importante pela existência de produtos similares de mesma marca ou de marca diferente.

O consumidor de produtos de massa faz a escolha por preço para produtos similares e o de produtos de luxo tem como preferência a qualidade, mas devido a similaridade de produtos também poder fazer alternativa para o custo.

Atualmente esta força torna-se mais forte pela facilidade de o consumidor comparar os preços no canal de venda on-line.

(V) rivalidade entre concorrente (nota 2)

​Esta força não foi considerada relevante pelo grupo que trabalhou nesta análise porque a concorrência neste setor não é marcante.

Existem diversos subsetores dentro de HPPC e uma massiva diversificação de produtos fazendo com que algumas empresas se destacam em determinados nichos.

Foto: Centro Celso Furtado

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