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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS – ASSOCIAÇÃO CULTURAL BOI BUMBÁ GARANTIDO

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado. Mestre Instalado e Grau 32 dos Corpos Filosóficos da Grande Loja Maçônica do Amazonas.

A Associação Folclórica Boi Bumbá Garantido, conhecida como Boi Garantido é um dos dois bois folclóricos que competem anualmente no Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas.

O nome Garantido surgiu foi ideia do criador Lindolfo Monteverde. Em suas toadas, ele sempre lembrava aos torcedores do boi contrário que seu bumbá sempre saía inteiro dos confrontos de ruas que eram rotineiros à época. Dizia Lindolfo: – nas brigas com os rivais, a cabeça de meu boi nunca quebrava ou ficava avariada. Isso era garantido.

Desde sua criação, o Garantido se apresenta com um coração na testa. As cores vermelho e branco, foram adotadas pelos torcedores.

A cor do coração na testa do boi costumava ser preta até meados dos anos 80, quando Dona Maria Ângela Faria, até hoje conhecida como madrinha do Garantido, deu a ideia de pintar de vermelho. Ideia executada pelo artista Jair Mendes.

Em sua trajetória, lhe foram atribuídos vários adjetivos carinhosos, como: “Brinquedo de São João”; “Boi da Promessa”; “Boi Mais Querido”; “Boi da Baixa do São José”; “Eterno Campeão”; “Oitava Maravilha”; “Boi do Coração”; “Boi do Povão”; entre outros.

O mais popular é “Brinquedo de São João”, de autoria de Lindolfo Monteverde para homenagear o Santo, a quem se apegou para curar a doença que o ameaçava quando servia o exército.

Há muita controvérsia sobre a história dos Bumbás de Parintins, uma vez que os bois folclóricos do  Amazonas  não eram associações legalmente registradas, nem possuíam cobertura da imprensa até a criação do Festival. Tudo o que se sabe atualmente foi levantado por pesquisadores a partir de entrevistas a membros das duas entidades, além de consultas a outros registros da tradição oral parintinense.

Quanto ao Boi Garantido é consenso que seu fundador é  Lindolfo Monteverde.

Em 13 de Junho de 1920, Monteverde, aos 18 anos decidiu criar seu próprio boizinho feito de Curuatá, uma carapaça que envolve os frutos da palmeira de Inajá. O chamado Boi Mirim, que até hoje é comum no Norte e Nordeste do Brasil.

Devido a uma grave doença, fez uma promessa a São João Batista, que se ficasse curado realizaria, anualmente, uma ladainha e uma festa de boi em sua homenagem. Lindolfo foi atendido em seu pedido e cumpriu sua promessa. Contam os mais antigos que a apresentação começou com a ladainha e depois houve distribuição de aluá, bolo de macaxeira, tacacá e no final, muito forró.

A partir de então, todos os anos os torcedores do Garantido se reúnem na noite de 24 de Junho para rezar a ladainha e festejar São João Batista e em seguida, saem pelas ruas da cidade, dançando em frente às casas que tiverem fogueiras acesas.

Em 1982, foi fundada a Associação Folclórica Boi Bumbá Garantido.

O Boi Garantido está situado na antiga estrada Terra Santa, hoje Av. Lindolfo Monteverde, na tradicional Baixa do São José. Atualmente, um complexo arquitetônico da antiga Fabriljuta, localizado no km 1 da Rodovia Odovaldo Novo, adquirido pela agremiação e abriga toda a estrutura de galpões, curral, diretoria e demais coordenadorias que fazem parte da administração do Bumbá, conhecido como Cidade Garantido.

Em 1988, ano de inauguração do Bumbódromo, o Garantido, impulsionado pela força de sua galera e memoráveis toadas, vence o primeiro Festival realizado na arena.

A grande inovação deste ano ficou por conta da Vaqueirada que, pela primeira vez, ostentou lanças enfeitadas com fitas de metalóide, substituindo o então tradicional papel de seda.

No bloco musical, o destaque ficou por conta da toada ‘’Mãe Catirina’’ que, tamanho o alvoroço causado na arquibancada vermelha do Bumbódromo, fez com que os engenheiros da arena deixassem a ilha na manhã do segundo dia de Festival por medo que a mesma desabasse. Parafusos foram achados nos corredores sob a arquibancada após o festival.

Em 1996, o compositor Chico da Silva compôs a toada “Vermelho”. Durante a gravação do CD, Chico se desentendeu com a diretoria do Garantido e decidiu retirar sua toada da lista de seleção.

Porém, antes mesmo de ser executada nas rádios, a toada já era conhecida por toda a população amazonense, sucesso decorrente apenas de sua execução nos ensaios. A diretoria entrou em acordo com Chico e a toada foi gravada no CD oficial e a música estourou no restante do Brasil.

De acordo com a Folha de S.Paulo, “Vermelho” foi a música mais executada nas rádios do Brasil naquele ano e a composição se tornou parte dos bens imateriais do patrimônio cultural do Estado do Amazonas.

Em 1997, o sambista Jorge Aragão, compôs para o Garantido a toada “Parintins Para o Mundo Ver”, que acabou se tornando o tema do boi para aquele ano, sendo mais um grande sucesso daquele álbum que marcaria a vitória do Boi Garantido após três derrotas seguidas para o Boi Contrário.

Entre os principais compositores do Garantido, estão: o próprio Lindolfo Monteverde, Mestre Ambrósio, Venâncio, Nelson Bulcão, Vavazinho, Braulino Lima, Emerson Maia, Chico da Silva, Tadeu Garcia, Paulinho Dú Sagrado, Inaldo Medeiros, Mencius Melo, Tony Medeiros, Helen Veras Filho, Demétrios Haidos, Geandro Pantoja, Cézar Moraes, Murilo Maia, Enéas Dias, Emerson Faria Maia, Ronaldo Barbosa Júnior, Rafael Marupiara, Ademar Azevedo, Maurício Filho e Alfredo Campos.

A festa que acontece na madrugada do dia 1º. de MaioDia do Trabalhador, em homenagem a São José Operário, foi criada por Lindolfo Monteverde para marcar o início dos ensaios do Garantido. Na noite de 30 de abril, os torcedores se reúnem na Cidade Garantido e na madrugada, o Boi Garantido, a Batucada e os torcedores saem em passeata, passando pela Baixa do São José e tradicionalmente pela casa de dona Maria Ângela Faria, seguindo pela avenida Amazonas, até chegar à Catedral de Nossa Senhora do Carmo e a festa vai até amanhecer.

Durante as três noites de apresentação no Festival de Parintins, há obrigratóriedades a serem cumpridas pelo regulamento. O Boi Garantido defende a cor vermelha, portanto, não pode apresentar nada com a cor azul e vice-versa.

As duas galeras não podem se manifestar durante a apresentação do boi adversário, com ofensas, gritos, zoadas, etc, sob pena de perder pontos. Isto nunca aconteceu e é um fenômeno social, de respeito pelo trabalho dos artistas.

APRESENTADOR – É o mestre de cerimônia que conduz o espetáculo e comanda a apresentação. Paulinho Faria foi o primeiro apresentador do Boi Garantido aos 15 anos de idade, ocupando este posto por 26 anos, sendo vencedor do item em 24 festivais, além dos inúmeros títulos do Garantido atribuídos ao apresentador.

LEVANTADOR DE TOADAS – O levantador de toadas tem a missão de entoar as toadas que sustentam o espetáculo. É o cantor que interpreta a maior parte das toadas executadas durante a apresentação na arena, além de ter responsabilidade sobre outros itens que contam pontos: Toada (Letra e Música).

BATUCADA – É o conjunto de ritmistas que toca durante as 2 horas e meia de apresentação. Dispõe de cerca de 400 batuqueiros, os quais tocam os seguintes instrumentos: Surdos, Caixinhas de Guerra, Repiques, Espantacão, Rocares e Palminhas.

O regente da Batucada, no Boi Garantido é chamado de Peara, nome que os índios atribuem ao porco do mato que lidera o bando. Os Batuqueiros da Baixa também são chamados de Camisas Encarnadas.

AMO DO BOI – É o personagem da fazenda onde brinca o boi. É um personagem do auto do boi, oriundo também das brincadeiras nordestinas, migradas para Parintins. Também são versados em desafios e provocações para o boi contrário. O primeiro Amo do Boi Garantido foi Lindolfo Monteverde, até sua morte em 1979 e seu filho, João Batista Monteverde, assumiu o posto até o ano de 1995.

SINHAZINHA DA FAZENDA – É a filha do Amo do Boi, cujo brinquedo de estimação é o Boi. Ela evolui com graça e alegria, exibindo sua indumentária que representa toda a pujança dos vestidos das sinhás dos tempos coloniais, reverenciando as influências da cultura parintinense.

CUNHÃ PORANGA – É a mulher mais bonita das tribos indigenas, tem na sua essência a garra, o mistério e o espírito guerreiro das lendárias Amazonas, expressando em sua dança os sentimentos de amor e paixão.

PORTA ESTANDARTE – É a responsável por conduzir e folclorear com o símbolo do boi em movimento. Conduz o estandarte vermelho e branco. A paixão e o encanto pelo vermelho, influenciam sua evolução na arena, sempre caracterizadas pela elegância, garra e simpatia na maneira de reverenciar o estandarte e representa a sabedoria cabocla da parintinense, da tradição popular e da cultura indígena da Amazônia.

RAINHA DO FOLCLORE – Representa os mistérios e beleza do folclore da Amazônia. Com beleza, simpatia, dança, desenvoltura e incorporação, geralmente se apresenta durante o momento das figuras típicas regionais e representa a cultura popular cabocla. Reinando absoluta nesse universo de sonhos, encantando a todos com seu bailado e pela exuberância de suas indumentárias. A rainha é a guardiã do folclore, traz a alegria e a magia de brincar de boi em sincronia com a diversidade cultural da vida existente na floresta e sua presença na arena significa que todos os entes da mata compactuam dessa mesma alegria e sentimento de respeito pela cultura e pela natureza.

PAJÉ – É o líder espiritual da tribo e conduz os rituais indígenas de iniciação, de orientações espirituais e que reproduzem eventos ancestrais, através da transcendência do Pajé.

É um item importante na regionalização da festa e nas representações do auto do boi, mãe Catirina, grávida, deseja comer a língua do boi preferido do patrão, forçando o seu marido, o Pai Francisco, a matar o boi e arrancar a língua para satisfazer os desejos da grávida.  Ao fim o boi é ressuscitado pelo curandeiro local, com poderes sobrenaturais: o poderoso Pajé.

Com o poder mágico das ervas, repete o gesto de invocar os espíritos sagrados pedindo proteção aos ancestrais para expulsar o ser maléfico. Após anos de evolução da festa, o Pajé ganhou importância no enredo do espetáculo, migrando em definitivo para a parte tribal da festa, encenando os ritos e lendas indígenas, sendo a aparição desse item um dos momentos mais aguardados de cada noite.

BOI BUMBÁ EVOLUÇÃO – É a representação lúdica do boi animal. Feito de fibra, espuma e pano, sua evolução depende do Tripa do Boi que lhe dá movimentos, criando a ilusão mágica entre o corpo lúdico do boi e o corpo real do tripa, através da mais perfeita manipulação, como se ambos fossem um só corpo, passando a sensação de sentimento de afeto do boi com os personagens da brincadeira.

Além destes itens citados, também são avaliados: Melhor Toada; Melhor Galera (torcedores); Organização de Conjuntos Folcloricos; Coreografia; Rituais Indigenas; Tribos Indigenas; Tuxauas; Figura Típica Regional; Alegorias e Lendas Amazônicas. Em cada ano, podem ser modificados os itens que serão julgados pelos jurados.

Os jurados não podem ser da região Norte, Cearences, Paraibanos, ou, que tenha amizade com algum membro das associações folclóricas. Na época do Festival, os jurados são enclausurados em hotel e vigiados pela Comissão do Festival, sem contato ou visita de qualquer membro das associações.

Fonte: Google

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