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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS: CASAMENTO INDÍGENA

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado. Mestre Instalado e Grau 32 dos Corpos Filosóficos da Grande Loja Maçônica do Amazonas.

Na maioria das crenças indígenas, um homem e uma mulher só estão preparados para o casamento quando passam por rituais, para provarem que realmente são adultos.

Os índios não namoram. Eles simplesmente decidem “se casar”. Costume normal na sociedade atual:  muitas pessoas não casam, simplesmente “o casal se junta”.

casamento entre índios varia muito de tribo para tribo. A maioria das tribos são monogâmicas, entretanto os antigos tupinambás e os atuais xavantes admitem a poligamia.

Alguns seguem a tradição de casamento grupal e outros permitem que se casem com membros da própria família. Existem diversas regras que ditam também, se um índio pode ou não se casar com uma não índia. Vale lembrar que em momento algum, a pessoa branca passa a ser índio por ter se casado com um indígena.

Benjamim Constant no Amazonas, a 1118 quilômetros de Manaus, onde um terço da população é de indígenas, foi palco do maior casamento coletivo de índios já realizado no país. Uma cerimônia que oficializou a união civil de mais de 800 casais de dois povos indígenas.

A História começou com um grupo de cerca de 300 casais. Só que, quando a Defensoria Pública do Amazonas visitou as aldeias, descobriu mais gente interessada em casar: mais de 800 casais de 35 comunidades diferentes.

O dia é de festa e alegria: – “Estou feliz, não só por mim, mas por toda a população que vai se casar hoje.  Estão de parabéns, estou alegre por isso”; “Casamento coletivo a gente sempre sabe que tem e congrega umas dezenas de noivos, mas centenas (806 casamentos) é algo realmente emblemático na sociedade brasileira”, disse Ismael Pinto, líder indígena e noivo.

A vestimenta é diferente, mas o nervosismo é igual ao de qualquer outro noivo. A noiva experimenta o vestido minutos antes do casório.

“Alguns queriam garantir benefícios previdenciários para o futuro, alguns queriam garantir a certidão de nascimento dos filhos. Então, cada família era uma peculiaridade diferente, cada um queria casar por um motivo, ou, às vezes, queria ter um pedaço de papel para falar que é casado com a fulana com o cicrano”, afirmou a defensora Juliana Lopes.

Tão importante quanto o papel era garantir que a celebração desse importante momento respeitasse as tradições e os costumes das comunidades indígenas. Como era muita gente, foram três dias de cerimônias em três diferentes comunidades.

Em virtude da dificuldade de acesso as aldeias, o casamento coletivo virou uma operação com o apoio da Defensoria Pública do Estado, em parceria com a Fundação Nacional do Índio, a Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça do Amazonas, a Prefeitura de Benjamin Constant, o Governo do Estado, a Marinha, o Exército e a Polícia Militar.

Depois de 65 anos juntos, os índios tikuna Guilherme Pereira e Etelvina Amaral agora são um casal de papel passado. Na língua tikuna, seu Guilherme diz que está muito feliz e que, mesmo estando tanto tempo juntos, apenas agora ele pode enfim dizer que aquela é a sua esposa e que se sente um verdadeiro cidadão do Brasil.

“Isso mostra que dá pra fazer muita coisa pela população do nosso estado se nos unirmos. Os indígenas querem oficializar uniões feitas quando eles eram crianças, dentro da tradição e querem que isso seja uma segurança para o caso de morte. Acesso à benefícios e o mais importante: eles querem acessar educação e saúde especializada pra eles”, afirma o Defensor Geral Rafael Barbosa.

“A formalização do casamento dá a eles uma aproximação a esses benefícios e direitos almejados. O casamento é um passo coordenado dos indígenas para buscar coisas maiores. O casamento foi uma forma de dizer que eles estão aqui e vão exigir seus direitos”, complementa.

Na tribo dos Tinguis-Botós, o casamento com pessoas não índias é permitido. Porém, aquele índio é impedido de continuar residindo na tribo.

A celebração do Casamento Indígena possui rituais incríveis, que variam de acordo com a tribo e o momento da história em que ela se localiza. Geralmente, a cerimônia acontece ao ar livre e é celebrada pelos anciãos da tribo.

Apesar dos rituais serem diversificados entre as tribos, as cerimônias têm em comum o alto nível de espiritualidade e misticismo no evento. O casamento acontece por iniciativa dos pais da noiva e as mulheres costumam se casar bem mais novas do que os homens.

Como parte da cerimônia indígena é levado ao casal ainda jovem um paparuto – alimento típico da tribo Krahô, que tem a finalidade de ser entregue e trocado entre os pais de ambas as famílias. A troca dos paparutos ocorre até o nascimento do primeiro filho do casal.

O dia da celebração do casamento em si, é repleto de música e danças típicas, feitas por todos os membros da tribo em volta do casal. Os recém-casados são iluminados por uma fogueira, que desperta um clarão na escuridão da noite.

Em algumas tribos como os Kaiowas ou dos Tamoios, os anciãos preparam uma resina colorida para o dia da cerimônia, que é aplicada nos braços da noiva simbolizando a passagem para uma nova fase em sua vida.

O casamento realizado segundo costumes indígenas que apresente alguma contrariedade às normas de direito de família, deve ser resolvido conforme o paradigma constitucional. Se a situação fática cultural indígena foi determinante para certos comportamentos há que se valorar o caso a partir da plurietnicidade e respeito à diferença.

No polêmico caso da poligamia ou poliandria, ocorrida segundo os costumes indígenas, se um indígena se une maritalmente a mais de uma esposa ou marido, cabe ao Direito o reconhecimento em decorrência do parâmetro constitucional multicultural.

Fonte: Google

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