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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS: MATINTA PEREIRA

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado.

A maldição de “MATINTA” pode ser passada para outras pessoas. Assim, quando a velha bruxa já está pronta a morrer, ela indaga outras mulheres perguntando somente “se querem”.

Se, portanto, a resposta for positiva, a pessoa carregará essa maldição, passando a ser a Matinta.

Oriunda da cultura popular do norte do Brasil, essa lenda é muito conhecida na região amazônica e provavelmente surgiu de alguma lenda indígena.

Alguns consideram que a lenda da Matinta é uma variante da lenda do Saci-pererê, sendo descrita como uma velha de uma perna só, que vaga à noite agourando os lugares e assustando as pessoas.

Seu canto estridente seria associado ao do pássaro Tapera naevia, chamado popularmente de Saci ou Matinta Pereira.

Note que essa metamorfose pela qual passa as lendas do país são frutos da oralidade e das características locais.

Câmara Cascudo (1898-1986), antropólogo brasileiro e um dos maiores estudiosos do folclore do Brasil, acrescenta: “… no sul é Saci Tapereré, no centro Caipora e no Norte Maty-Taperê.

O civilizado, que muitas vezes não entende a pronúncia do sertanejo, que é o mais perseguido por ele nas suas viagens, tem-lhe alterado o nome;  já o fez Saci-pererê,  Sererê, Siriri, Matim-taperê e até já lhe deu o nome português de Matinta Pereira, que mais tarde terá o sobrenome de da Silva ou da Mata’’.

Matinta Pereira ou Matinta Perera é uma personagem do folclore brasileiro que possui diversas versões. De maneira geral, ela é descrita como uma bruxa velha que se transforma durante as noites em um pássaro de mau agouro.

Em algumas versões, Matinta não se transforma à noite, sendo uma velha acompanhada de seu pássaro fiel e agoureiro.

Em outras, ainda é uma velha que durante à noite se transforma em coruja, representando a alma de algum antepassado.

Matinta Pereira é uma bruxa velha que assombra as casas das redondezas durante à noite, momento em que ela se torna um pássaro, o “Rasga Mortalha”.  Assim, o pássaro pousa nos telhados ou nos muros das casas emitindo um assobio alto e estridente para que os moradores deem conta de sua presença.

Matinta costuma aparecer durante a noite ou a madrugada perturbando o sono das pessoas. Nesse momento, um dos moradores da casa dizem em voz alta que oferecerá para ela o tabaco desejado.  Depois de proferida a frase, o pássaro voa dali e vai até outras casas fazer o mesmo.

Note que em alguns lugares, as pessoas oferecem outras coisas como comida, bebidas, presentes, etc.

No dia seguinte, com o aspecto de bruxa velha, Matinta vai às casas e recebe o que lhe foi prometido na noite anterior. Se não lhe for entregue, ela amaldiçoa todos os moradores da casa, com doenças ou mesmo com mortes.

Não se sabe ao certo a origem da lenda, muitos dizem que se trata de uma feiticeira que usa da magia para se transformar em matinta. Os mais velhos diziam que a sina de transformação seria hereditária, ou seja passaria de mãe para filha.  No caso de não haver herdeira para a sina matinta, a dona da maldição se esconde na floresta e espera que uma mulher passe por lá. Quando uma mulher finalmente passa, então ela pergunta: “quem quer?”. Se a moça responder: “eu quero!” então ela se torna ainda naquela noite a Matinta Perera.

Nas cidades amazônicas existem duas versões para a lenda da Matinta, a primeira é que ela se transforma em uma coruja rasga-mortalha ou num corvo, outra versão diz que ela se veste de uma roupa preta que lhe cobre todo o corpo dando-lhe nos braços uma espécie de asa para que possa planar sobre as casas.

Há quem diga que existe um jeito de prender a Matinta e os materiais são simples: uma tesoura, uma chave comum, um rosário bento e uma vassoura virgem.

A chave deve ser enterrada e a tesoura fincada em cima do local, o rosário se põe por cima da tesoura. Toda Matinta que passar por ali ficará presa, mas depois que ela for libertada deve-se varrer o local com a vassoura para que a sina não se espalhe.

Outra versão diz que ela não pode ouvir o nome de qualquer Deus enquanto estiver transformada, pois se não o feitiço acaba, já que, sendo uma bruxa, não tem uma religião.

O repentista Teobaldo Patacho, mestre do cancioneiro popular paraense, transforma em versão da canção “Paixão Cabeluda” (Do álbum “Pará no Pará”, de 1987) a lenda regional do casamento atribulado entre a atormentada Matinta e o deslizante Boto.

Segundo as versões mais populares, a união foi desfeita pelo boto, por não aturar o cheiro de cachaça e de fumo com que a esposa chegava em casa todas as noites, mas também é comum se encontrar versões relegando à jovem Matinta o fim das núpcias, dado que o Boto era muito afeito a procurar jovens donzelas à beira do Rio Guamá.

No ano de 2015, a lenda foi mencionada no enredo da São Clemente, “A Incrível História do Homem que Só Tinha Medo da Matinta Perera, da Tocandira e da Onça Pé de Boi”, uma homenagem ao carnavalesco Fernando Pamplona.

Na música aparece em uma peça das “Lendas Amazônicas” de Waldemar Henrique Matinta é descrita na letra da música “Matinta”, da banda brasileira Armahda.

É citada também em “Aguas de Março” de Tom Jobim.

Fonte: GOOGLE, WIKIPEDIA

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