Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado.
Os peixes-boi, vacas-marinhas, manatins ou lamantins, constituem uma designação comum aos mamíferos aquáticos, sirênios, como os dugongos, mas da família dos triquequídeos (Trichechidae). Possuem um grande corpo arredondado, com aspecto semelhante ao das morsas.
O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) pode medir até quatro metros e pesar 800 quilos, enquanto o peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis) pode chegar ate 2,5 metros e pode pesar até 300 quilos.
O peixe-boi-marinho habita geralmente em águas costeiras e estuarinas quentes e rasas e pântanos, enquanto o peixe-boi-da-Amazônia habita apenas em águas doces das bacias dos rios Amazonas e Orinoco.
Existem quatro espécies de peixe-boi:
Peixe-boi-africano (Trichechus senegalensis), vive no Atlântico, habita as águas doces e costeiras do oeste da África.
Peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), também conhecidos como manatis, tem ampla distribuição nas Américas, indo desde o México, os Estados Unidos, vivendo nas ilhas da América Central, na Colômbia, Venezuela, nas Guianas, no Suriname e no Brasil.
Peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis), são animais fluviais e vivem nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco.
Peixe-boi-do-oeste (Trichehus hesperamazonicus), espécie fóssil de sirênios descrito em 2020 e descoberto no Rio Madeira.
No Brasil, o peixe-boi-marinho habitava do Espírito Santo ao Amapá, porém devido à caça, desapareceu da costa do Espírito Santo, Bahia e Sergipe. Os peixes-bois vivem tanto em água salgada quanto em água doce.
O peixe-boi amazônico só existe na bacia do rio Amazonas no Brasil, Peru e no rio Orinoco na Venezuela e vive apenas em água doce.
Todas as espécies encontram-se ameaçadas de extinção e estão protegidas por leis ambientais em diversas partes do mundo.
No Brasil, o peixe-boi é protegido por lei desde 1967 e a caça e a comercialização de produtos derivados do peixe-boi é crime que pode levar o infrator a até dois anos de prisão.
São animais de hábitos solitários, raramente vistos em grupo fora da época de acasalamento.
Alimentam-se de algas, aguapés, capins aquáticos entre outras vegetações aquáticas e podem consumir até 10% de seu peso em plantas por dia, e podem passar até oito horas por dia se alimentando. Durante os primeiros dois anos de vida, vivem com suas mães e ainda se alimentam de leite.
São muito parecidos com os dugongos e a principal diferença entre o peixe-boi e o dugongo é a cauda.
São animais muito mansos e, por este motivo, são facilmente caçados e se encontram em risco de extinção.
O peixe-boi-da-Amazônia é caracterizado por ter um pelo de tom marrom acinzentado e uma pele grossa e enrugada, geralmente apresentando também pelos grossos ou “bigodes”.
O peixe-boi tem uma média de 500 a 550 quilogramas de massa e comprimento médio de 2,8 a 3 metros, com máximas avistadas de 3,6 metros e 1775 quilogramas (as fêmeas tendem a ser maiores e mais pesadas).
Ao nascer, um filhote de peixe-boi tem uma massa média de trinta quilogramas. O corpo é robusto e maciço, com cauda achatada, larga e disposta de forma horizontal.
A cabeça fica bem junto ao corpo. Pode-se quase afirmar que não tem pescoço, apesar de conseguir movimentar a cabeça em todas as direções, tem olhos bem pequenos, mas enxerga bem, sendo capaz até mesmo de reconhecer cores.
O nariz está bem em cima do focinho, com duas grandes aberturas. Não tem orelhas: os ouvidos são dois pequenos orifícios um pouco atrás dos olhos. Além de escutar os ruídos ao seu redor, o peixe-boi também pode se comunicar através de pequenos gritos chamados vocalizações.
Esta comunicação é muito importante entre a mãe e o filhote. A mãe é capaz de reconhecer o seu filhote entre muitos outros apenas pela vocalização.
A boca é grande: os lábios de cima são amplos e se movimentam na hora de pegar o alimento.
A dentição desses animais é reduzida a molares, que se regeneram constantemente, em virtude de sua dieta vegetariana quando adultos. Estas folhagens contêm sílica, elemento que desgasta rapidamente os dentes, mas os manatis são adaptados, seus molares deslocam-se para frente cerca de 1 mm por mês e se desprendem quando estão completamente desgastados, sendo substituídos por dentes novos situados na parte posterior da mandíbula.
No focinho, o peixe-boi tem muitos pelos chamados vibrissas ou pelos táteis, muito sensíveis ao movimento ou ao toque.
Por ser um animal aquático, no lugar das patas dianteiras o peixe-boi tem duas nadadeiras, com unhas arredondadas nas pontas. Em vez das patas traseiras, possui uma grande nadadeira caudal.
Para nadar, o peixe-boi impulsiona sua nadadeira caudal, usando as duas nadadeiras peitoral para controlar os movimentos. Apesar de bastante pesado, consegue ser bem ágil dentro d’água, fazendo muitas manobras e ficando em várias posições.
Em média, os peixes-boi nadam com uma velocidade de cinco quilômetros por hora até oito quilômetros por hora (1,4 metros por segundo a 2,2 metros por segundo). No entanto, têm sido vistos nadando a uma velocidade de até trinta quilômetros por hora (oito metros por segundo) em rajadas curtas.
Metade do dia de um peixe-boi é gasto dormindo na água, subindo para tomar ar regularmente em intervalos não superiores a vinte minutos. Por ser um mamífero, o peixe-boi precisa ir à superfície para respirar.
O peixe-boi-da-Amazônia nunca se aventura em água salgada. Têm uma grande flexibilidade preênsil no lábio superior que atua em muitos aspectos como uma tromba curta, algo semelhante a um elefante.
Emitem uma ampla gama de sons na comunicação, especialmente entre as fêmeas e os machos durante o contato sexual, mas também entre os adultos durante jogos e comportamentos habituais. Podem usar sabor e odor, além da visão, som e tato, para se comunicar.
São capazes de aprender diferentes tarefas e mostram sinais de aprendizagem complexas ou longa memória, tal como golfinhos e Pinípedes, segundo estudos visuais e acústicos.
Possuem taxa reprodutiva muito baixa, pois a fêmea, chamada peixe-mulher, segundo o Dicionário Aurélio, tem geralmente um filhote, mas há casos de nascimentos de gêmeos, até mesmo em cativeiro, como já aconteceu na Sede Nacional do Projeto Peixe-Boi, em Itamaracá, Pernambuco.
Os peixes-boi não têm nenhuma diferença sexual externa fácil de ser notada. Na fêmea, a abertura genital (a vagina) fica mais próxima do ânus, enquanto no macho (no caso, o pênis) fica mais próxima do umbigo. O pênis só sai da abertura genital no momento do acasalamento. No resto do tempo, está sempre “guardado”. O acasalamento se dá com o macho por baixo e a fêmea por cima, num tipo de “abraço”.
Vários machos podem copular com uma mesma fêmea, o cio dura um longo período, mas apenas um deles irá fecundá-la. A reprodução da espécie é lenta, pois o período de gestação das fêmeas é longo: treze meses.
Depois, a mãe amamenta o filhote durante um período entre um e dois anos. Por causa disso, a fêmea tem apenas um filhote a cada quatro anos, pois ela só volta a entrar no cio outra vez um ano depois de desmamar e tirando a época em que as mães estão com os seus jovens do sexo masculino ou feminino, os peixes-boi geralmente são criaturas solitárias.
Nos primeiros dias de vida, o filhote alimenta-se exclusivamente do leite da mãe. O leite materno é importante para o desenvolvimento do filhote: é um alimento completo que o ajuda no crescimento e funciona como uma vacina, protegendo-o nos primeiros tempos de vida.
Durante o período de amamentação é possível notar as mamas na fêmea. Elas ficam uma de cada lado, bem abaixo da nadadeira peitoral, mas é já a partir dos primeiros meses de vida que o peixe-boi começa a ingerir vegetais, seguindo o comportamento da mãe.
O filhote, aliás, recebe todos os cuidados da mãe. Muito zelosa é ela quem o ensina a nadar, a subir até a superfície para respirar e também a alimentar-se de plantas.
Embora os peixes-boi possuam poucos predadores naturais (tubarões, crocodilos, orcas e jacarés), todas espécies de peixe-boi estão listadas pela World Conservation Union como vulnerável à extinção. O assoreamento dos estuários onde as fêmeas dão à luz os filhotes é outro motivo para ameaça de extinção desta espécie.
Há registros do peixe-boi desde o descobrimento pelos portugueses no século XVI.
Com a possibilidade de extinção dessas espécies o governo brasileiro proibiu sua caça e criou em 1980 o Projeto Peixe-Boi desenvolvido pelo CMA (Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos) com sede na Ilha de Itamaracá, Pernambuco.
O projeto dedica-se à pesquisa, resgate, recuperação e devolução à natureza do peixe-boi, bem como a informação e parceria com comunidades ribeirinhas e costeiras. O projeto está aberto a visitação, onde podem ser vistos inúmeros peixes-boi, inclusive a Chica, um peixe-boi fêmea que viveu durante anos num aquário público em uma praça do Recife e o Poque, um raro caso de híbrido entre o peixe-boi marinho e o amazônico.
Os estudos sobre a biologia e conservação do peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) iniciaram-se em 1974 no Laboratórios de Mamíferos Aquáticos (LMA), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), situado na cidade de Manaus, Amazonas.
Atualmente o LMA já reabilitou com sucesso mais de 60 filhotes de peixes-boi, cujas mães foram vítimas da caça ilegal que ainda ocorre na região. Aqui nasceu o primeiro filhote de Peixe-Boi da Amazônia em cativeiro, chamado Erê, em 1998.
Os tanques do peixe-boi estão localizados no Parque Aquático Robin Best e é aberta a visitação como parte do Bosque da Ciência do INPA. No ano de 2000, pesquisadores do INPA e do CPPMA – Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos, criaram a AMPA – Associação Amigos do Peixe-boi, uma organização não governamental que atua em convênio com o INPA e é patrocinada pelo Programa Petrobras Ambiental.
O padre José de Anchieta (1534-1597) enaltecia, em carta de 1560, as qualidades da carne do peixe-boi.
Aos nativos, o peixe-boi não servia apenas de alimento, sendo consumido assado, guisado ou cozido.
Seu couro era muito resistente, ideal para a confecção de cordas e escudos. Sua queixada era curva, própria para cabo de machados e enxós.
Indígenas amazonenses caçavam peixe-boi de canoa e arpão, em cuja ponta era fixada conchas afiadíssimas. Quando o animal colocava o focinho para fora da água para respirar, era arpoado.
Outra maneira de capturar o peixe-boi era utilizar o arpão preso a uma corda à canoa e arpoá-lo. O animal arrastava a canoa até se cansar, quando então era puxado para as proximidades da canoa e madeiras eram inseridas em suas ventas, matando-o por asfixia. Em outras ocasiões ele era arrastado para a terra firme, onde acabavam de matá-lo.
O peixe-boi era também caçado com o arpão preso a uma corda onde, na outra extremidade, estava presa uma boia. O animal fugia, mas a boia indicava sua posição e quando ela parava de se movimentar, os índios puxavam o animal já morto para a canoa.
Para embarcá-lo, enchiam a embarcação de água e o deslizavam para dentro e, em seguida, com ajuda de cuias, esvaziavam a água da canoa para fazê-la boiar e a empurravam para a margem.
Quando os índios amazônicos caçavam ou pescavam uma grande quantidade de animais e não podiam transportar toda a carga para a aldeia, moqueavam a carne restante, embrulhavam-na em folhas de bananeiras, inajá ou ubi e a enterravam para buscá-la em outra ocasião.
Fonte e foto: GOOGLE, WIKIPÉDIA