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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS – TEATRO AMAZONAS

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado. Mestre Instalado e Grau 32 dos Corpos Filosóficos da Grande Loja Maçônica do Amazonas.

Principal símbolo cultural e arquitetônico do Estado, o Teatro Amazonas mantém viva boa parte da história do ciclo da borracha, época áurea da capital amazonense.

É considerado um dos mais importantes do Brasil e do mundo e, claro, um dos cartões postais de Manaus.

Localizado no Largo de São Sebastião, no Centro Histórico de Manaus, foi inaugurado para atender ao desejo da elite amazonense da época, que idealizava a cidade à altura dos grandes centros culturais.

Por ser o Brasil um país de dimensão continental, os brasileiros residentes em outras regiões, não se davam conta da riqueza gerada ao país por meio da extração do látex, abundante nas seringueiras amazonenses.

A ideia era que a capital amazonense tivesse uma casa de ópera à altura do poderio da elite local. E assim foi feito: uma casa de espetáculos em alvenaria, cuja pedra fundamental foi colocada em 1884.

No período conhecido como ciclo da borracha, o Deputado A. J. Fernandes Júnior apresentou à Assembleia Provincial do Amazonas, o projeto arquitetônico, de autoria do Gabinete Português de Engenharia e Arquitetura de Lisboa, para erguer o Teatro Amazonas.

Coordenadas pelo arquiteto italiano Celestial Sacardim, as obras começaram em 1884, tomaram impulso nos anos de 1890-1891. Foram interrompidas e retomadas em 1893.

Construído em estilo arquitetônico renascentista, com detalhes ecléticos, o Teatro Amazonas foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 1896, surpreende e encanta pela imponência. Tombado como Patrimônio Histórico Nacional em 1966, o Teatro preserva parte da arquitetura e decoração originais.

A maioria da mão de obra técnica foi trazida da Europa, porém a decoração interna ficou nas mãos do pernambucano Crispim do Amaral e do italiano Domenico De Angelis.

A maior parte do material usado na construção do teatro foi importada da Europa: as paredes de aço de Glasgow, na Escócia; os 198 lustres; o mármore de Carrara das escadas, estátuas e colunas são da Itália.

O salão de espetáculos tem capacidade para 700 pessoas, distribuídas entre a plateia e três pavimentos de camarotes.

Impossível não ficar hipnotizado com o teto côncavo, no qual estão quatro telas pintadas em Paris pela tradicional Casa Carpezot. As telas representam música, dança, tragédia e ópera. Esta última, uma homenagem ao compositor brasileiro Carlos Gomes, grande nome da ópera no Brasil no fim do século XIX.

O que chama a atenção é o fato de as pinturas terem sido feitas em tecidos lonados, imitando as típicas tapeçarias do século XVIII e eternizados pela família Gobelin. Isso explica porque a obra é chamada de falso Gobelin.

A História nos conta que o pintor idealizou em sua obra arcos de abóboda simulando a sustentação do lustre, originário da Casa Italiana Murano. Já a lenda, diz que a estrutura é uma homenagem aos franceses, simbolizando a estrutura da Torre Eiffel.

Historiadores desafiam a lenda ao afirmarem que a torre, à época da pintura não possuía a representatividade que ganhou ao longo do tempo e ainda era muito questionada por parte dos franceses. Como a obra não foi assinada, não é possível saber se foi realizada por Crispim do Amaral ou um pintor do atelier contratado.

Ao centro, um majestoso lustre de bronze francês. Também não passam despercebidas as máscaras nas colunas da plateia, que homenageiam compositores e dramaturgos, entre eles: Aristophanes, Molière, Rossini, Mozart e Verdi.

Museu – A mais importante casa de espetáculos do Amazonas, tem ainda um museu, com peças que ajudam a contar sua história, como: as maquetes de óperas do compositor alemão Richard Wagner, concebidas pelo designer e cenógrafo inglês Ashley Martin-Davis, para as montagens do ciclo do “Anel do Nibelungo” em diferentes edições do Festival Amazonas de Ópera (FAO). São oito obras expostas no 2º. pavimento.

O bailarino amazonense Marcelo Mourão Gomes tem um espaço especial no museu, onde estão expostas, entre muitos outros itens, as sapatilhas com as quais se apresentou pela primeira vez no Teatro Amazonas em 1999, com o espetáculo “Marcelo Mourão dança na floresta”.

No quesito sapatilhas, também estão em exposição as de Mikhail Baryshnikov e Ana Laguna, que apresentaram o espetáculo “Três solos e um dueto” em 2010 e; as de Margot Fonteyn, que esteve no Teatro Amazonas em 1975, com o The Royal Ballet.

Espetáculos – Também já passaram pelo palco do Teatro muitos outros artistas internacionais, entre eles: o tenor espanhol José Carreras; o ex-integrante da banda Pink Floyd, Roger Waters; o violonista Yamandú Costa; as bandas Spice Girls e The White Stripes. Assim como, os brasileiros: Heitor Villa-Lobos; Milton Nascimento; Ana Botafogo; Fernanda Montenegro e; Bibi Ferreira.

Foi palco de grandes eventos realizados pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC), como o Festival Amazonas de Ópera e os Festivais de Dança e Teatro; de espetáculos eruditos como os apresentados pelos Corpos Artísticos estatais e também populares, beneficiando artistas locais de diversos gêneros.

Salão Nobre – O próprio nome se encarrega de dar a dimensão artística deste espaço para o teatro, onde aconteciam os grandes eventos sociais da época. Ao entrar no salão é impossível permanecer com o olhar fixo em algum lugar.

A cabeça gira, o pescoço entorta e a visão lhe conduz a um êxtase de percepções.

No teto destaca-se a pintura feita por Domenico De Angelis em 1899, que foi batizada de: “A glorificação das Bellas Artes da Amazônia”, nos presenteia com elementos regionais e clássicos sob sua perspectiva e olhar. Um contraponto entre a civilização que chega e as belezas que aqui estão.

Nas paredes do Salão, são retratadas as belezas da floresta tropical e o avanço tecnológico (como o barco a vapor), e uma das obras mais impactantes, que mostra Peri salvando Ceci no clássico romance “O Guarani” de José de Alencar.

Pano de Boca – Outra raridade. Originalmente foram confeccionados três panos frontais para o palco, utilizando-se pintura a óleo sobre tecido. Hoje, temos preservados apenas dois, sendo um em uso e outro em restauro.

Um deles, representa o fim da Monarquia no Brasil e percebe-se o desenho de uma cortina sobrepondo o Brasão da Família Real.

O segundo pano, em restauro, foi confeccionado em 1894, pelo artista brasileiro Crispim do Amaral e traz a pintura “O Encontro das Águas do Rio Negro e Rio Solimões”.

Um detalhe importante é que o pano não é dobrado ou enrolado, fica fixo, movimentando-se apenas na vertical. Este cuidado é fundamental para a preservação das obras.

Cúpula – Na área externa, a famosa cúpula chama atenção pela exuberância. Composta por 36 mil peças.

Concebida pela Casa Koch-Frêres de Paris em 1895, tem estrutura em aço e revestida de cerâmica policromada. As telhas vidradas e esmaltadas vieram da Alsácia, região entre a Alemanha e a França, em forma de escamas de peixe.

Receberam as cores verde, amarelo, vermelho e azul, representando o colorido da floresta e dos pássaros da Amazônia.

Por não fazer parte do projeto original e destoar da arquitetura do prédio, recebeu muitas críticas da imprensa à época. Nos dias de hoje é parte indissociável da obra, permanecendo acessa sempre que ocorre alguma atividade artística no teatro.

O Teatro Amazonas é símbolo da prosperidade brasileira que atrai visitantes do mundo inteiro. Uma joia encravada na Amazônia.

 Curiosidades

  • A primeira ópera encenada foi a La Gioconda, baseada em Victor Hugo, século XVII e ambientada originalmente em Veneza, Itália.
  • Ao longo de sua história passou por dois importantes restauros, 1974 e 1990. Algumas características mudaram ao longo do tempo em função de necessidades contemporâneas, como a ventilação do Teatro que fora planejada em uma época que não existia o ar condicionado e que, em função do crescimento da cidade e do conhecido calor de Manaus, teve que ser repensado. Alterando inclusive as poltronas usadas nos dias de hoje.
  • Em 1926, uma reforma “criminosa” alterou partes do seu interior ao retirar peças de ferro, madeira, pisos de pinho de Riga e esculturas. Até 1930, ainda se tem relatos de assaltos ao patrimônio público.
  • Sua cor original de 1897, era cinza e branco e somente em 1960, recebe a cor rosa. No restauro de 1974, retornou às cores originais, porém foi motivo de polêmicas. Em 1990, é pintado com uma cor rósea especialmente elaborada para o teatro.
  • Pela beleza e magnitude, tanto interna como externa, o Teatro Amazonas serviu como cenário até para filmes internacionais como “Fitzcarraldo” de Werner Herzog em 1982 e o desenho animado “Rio 2”. Também foi pano de fundo para minisséries e livros.
  • O camarote central era tratado com mais pompa e requinte que os demais e era destinado às autoridades da época. Tradição mantida até os dias de hoje, onde só o Governador do Estado pode utilizá-lo, ficando vazio grande parte do ano.
  • A história de apresentações teve início no dia 7 de janeiro de 1897, quando foi realizada a apresentação da famosa Companhia Lírica Italiana, que encenou, em avant première, ‘La Gioconda’, de Amilcare Ponchielli.

Fonte de pesquisa: Internet / Foto: AVG/TV Amazonas

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