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HISTÓRIAS E LENDAS AMAZÔNICAS – VALE DO JAVARI

by Gilmar Couto

Paulo Almeida Filho – Servidor Público Federal Aposentado. Mestre Instalado e Grau 32 dos Corpos Filosóficos da Grande Loja Maçônica do Amazonas.

A Terra Indígena do Vale do Javari é uma terra localizada no Oeste do Estado do Amazonas. Foi demarcada por decreto do Presidente Fernando Henrique em 02 de maio de 2001.

O Vale do Javari registra uma alta taxa de suicídios (142 para cada 100 mil habitantes), mais do que qualquer outro lugar no Brasil. A região também sofre por pressões predatórias de madeireirostraficantescaçadores e pescadores.

As imagens de satélite mostram uma contínua e extensa área de Floresta Amazônica, quebrada apenas por um roçado, outras aldeias ou por algumas pequenas cidades. São mais de 8,5 milhões de hectares, distantes muitos quilômetros dos grandes centros urbanos.

O acesso restrito, apenas via fluvial ou aéreo, sem eixo rodoviário ou ferroviário próximos, passa a falsa ideia de que o Vale do Javari é uma área extremamente isolada, sem ligação com as iniciativas de desenvolvimento econômico nacional.

A mesma ideia de isolamento ocupa o imaginário social quando se fala do Vale do Javari, como a região que abriga a maior concentração de povos indígenas isolados no mundo: a Funai trabalha com 16 registros em seu banco de dados, sendo 11 referências confirmadas, outras 3 ainda não confirmadas e 2 “informações”. Dentre os diferentes povos estão os Marubos, MatsésMatisKanamariKulina, à época da demarcação somavam 3.961 indivíduos.

É corriqueira a veiculação de informações sobre esses povos indígenas isolados como se fossem povos que nunca estabeleceram contato com a sociedade nacional, que vivem no período neolítico. Mas na verdade, são povos tão contemporâneos quanto nós, com estratégias políticas diferentes de se relacionar com outras sociedades.

Muito mais complexos que o purismo de uma natureza intocada, a dinâmica e o histórico de ocupação da região ajudam a entender o contexto atual dos povos indígenas isolados que ali habitam. Houve momentos em que o Vale do Javari foi muito mais povoado por invasores.

Na virada do século XIX para o XX há uma chegada bastante expressiva de peruanos não-indígenas e de outros povos indígenas vindos de regiões do Peru, caso dos Chamicuro, povo Arahuaca, que veio trabalhar na exploração do caucho. Algumas narrativas do povo Marubo, por exemplo, remetem aos contatos com esses grupos, explica Conrado Rodrigo Octavio, coordenador-adjunto do Centro de Trabalho Indigenista (CTI).

A responsabilidade de garantir o direito à opção por permanecer no isolamento voluntário é da Fundação Nacional do Índio (Funai), executada por meio das Frentes de Proteção Etnoambiental (FPE), que implementam a política de proteção sob supervisão da Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados (CGIIRC/Funai).

Cabe à FPE Vale do Javari monitorar e proteger os territórios ocupados por índios que hoje recusam estabelecer uma relação mais sistemática e constante com a sociedade nacional. A tarefa não é fácil, seja pela extensão da área, pelas muitas ameaças à tranquilidade desses povos, seja pela precariedade de estrutura, recursos e material humano dos órgãos de Estado brasileiros.

Segundo dados oficiais, de 2000 a 2010 foram registrados pelo menos 325 óbitos, o equivalente a 8% da população do Vale do Javari. Até hoje, a região sofre com a alta prevalência de hepatites virais (A, B, C e D), além de filariose, malária e tuberculose.

Grupos inteiros de alguns povos indígenas já foram dizimados por conta de doenças. É o caso dos Matis, que, nos primeiros anos após o contato em 1976, perderam cerca de 1/3 de sua população devido a epidemias de gripes e outras moléstias infectocontagiosas.

Junto com as doenças vieram outros males. A presença de pescadores, caçadores e madeireiras ilegais tem de ser constantemente monitorada.

Há informações sobre invasões em boa parte do território, mesmo onde não consegue se fazer presente e controlar a entrada em área. Porém, em todo o limite sul e na parte oriental da terra indígena, locais de mais difícil acesso, o desafio de garantir a presença e, portanto, as ações de proteção, é ainda maior.

Nos últimos anos, mais de um grupo de isolados Korubo intensificou a presença nas margens dos rios Ituí e Itacoaí em épocas de seca. Nessas ocasiões, povos como os Korubo saíram das regiões de igarapés e foram até a beira dos rios coletar ovos de quelônios, tracajás ou tartaruga.

Em 2014, um desses grupos estabeleceu novo contato. “Eles ficavam acampados na beira do rio durante alguns dias, chamando, sinalizando para as embarcações que passavam de outros indígenas, de profissionais de saúde, ou da própria Funai. E esse processo acabou precipitando duas situações de contato no ano passado”, relata Conrado Octavio.

No caso da extração ilegal de madeira, os rios ao norte da Terra Indígena Vale do Javari sempre foram a principal porta de entrada para a atividade. Nos últimos anos, porém, isso também mudou e o sul das destas terras passou a ser o principal alvo de derrubadas para criação de gado e extração de madeira.

Um “novo” velho problema é o interesse de empresas petrolíferas na região. A questão é ainda mais difícil de ser resolvida que outras, já que o interesse recai sobre uma área de fronteira, território compartilhado por Brasil e Peru, que possuem diferentes políticas voltadas aos povos indígenas e onde habitam grupos que desconhecem a existência de uma linha geopolítica que os divide e lhes concede diferentes direitos.

No passado, em meados dos anos 1980, os Matsés (como os Mayoruna se autodenominam) sofreram com as atividades da Petrobras na região e até hoje lembram as mortes e as doenças desse período. A exploração trouxe desmatamento, medo e doenças aos índios da região.

As atividades da estatal brasileira na região foram paralisadas em 1984, quando um grupo de isolados Korubos, matou a golpes de borduna dois funcionários que prestavam serviços a uma empresa contratada pela Petrobras nos arredores do rio Itacoaí.

Apesar de a terra indígena ser oficialmente protegida no Brasil, a frente econômica petrolífera tem gradativamente aumentado a pressão sobre ela, mesmo que ainda de forma incipiente.

Do outro lado da fronteira no Peru, a exploração está mais avançada. A Pacific Rubiales, empresa canadense do ramo petrolífero, ganhou as concessões e pesquisa em áreas de ocupação, principalmente, dos povos Matsés e Matis, além dos isolados.

A agressividade da prospecção, com circulação de funcionários, maquinário, explosões e tudo o que envolve a atividade e pesquisa, tem causado alterações, segundo os indígenas que vivem próximos aos lotes petrolíferos.

A maior ameaça está na fronteira com o Peru, no rio Jaquirana, onde foram vistos outros povos isolados e ao mesmo tempo, estão chegando empresas de petróleo. Essa exploração está empurrando os isolados para o outro lado e pode gerar conflitos.

VALE DO JAVARI (Ronaldo Barbosa e João Melo Faria – CARRAPICHO)

Javari Itui

Javari Curuça

Javari Itacuai

Bacia dos Belos Matis Itui

Berço bravo dos Mayoruna Curuça

Sina feliz dos Kulina Itacuai

Braço forte dos Marubo Javari

Cacete de morte dos Quixito Kaniwa

á, á, á…

Vale do Javari

Vale das madeiras, pérola, á, á

Palmeiras do Javari

Dos índios arredios, pérola, á, á

Nada vale como um vale de lágrimas

Vale pela vida, pelo sangue

Dos mayorunas

Pelo riso dos Matis

Pelo viço dos Kulinas

Pela arte dos Marubos

Pelo cacete dos Korubos

Pelo grito de guerra á, á, á

Pelo grito de guerra á, á, á

Dos Kanamarys

ê, ê, ê, iê, ê, ê, iê…

Remate dos males, Atalaia do norte,

Estirão do Equador

Música: pode ser ouvida no YouTube

Fonte: YouTube e Google Foto Divulgação: Internet

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